O CONTO DE ÁRIES

Nome de príncipe, porte real, sorriso de príncipe. Pruma princesa, nada mais justo.Vossa majestade, príncipe soberano, dono de tudo que é meu. É dono de verdade? Porque existem os reinos do faz-de-conta, das cinderelas e maçãs envenenadas, dos sete anões e até das bruxas más. Ah, os contos de fada! Temos de um lado a pobre menina enfeitiçada pelas mazelas de seus pensamentos, do outro lado, eis que surge ele, nosso príncipe encantado! Cavalo branco, armadura imponente, peito aberto e - é claro - covinhas de príncipe. Qual o veneno, qual a maldição, qual o pó de pirlimpimpim?Disse um senhor cabisbaixo que ali passava, quase sussurrando : "ela sofre de amor".O jovem príncipe que a via dançar, enaltecido pela magnitude daquela menina, ergueu-se e indagou: "mas como poderia alguém sofrer de amor?O amor salva, liberta, cura a alma dos homens, alegra os desfavorecidos e completa os mais enriquecidos. Ninguém pode padecer do que dá vida". A menina, tão triste, dançava para ele. Era sem vida, mas parecia fervorosa, cega, posto que, ainda que seus olhos tudo pudessem ver, não tem visão quem não enxerga a si mesmo. Não há espelho mágico que te faça ver o que não queres. Não há príncipe encantado que te faça sentir o que não sentes.Não há poção mágica que te faça esquecer o que jamais poderia."Mas vossa majestade não há de se importar", disse o velho, " veja como ela dança, veja como sorri, como é leve, como parece feliz". De fato, sua alteza jamais se importaria. De belos jardins se constrói um castelo. No mundo do faz-de-conta nada precisa ser real. Nem a princesa, nem seus sorrisos tampouco seu amor.E que sejam felizes para sempre.