terça-feira, 2 de novembro de 2010

Poucos sentimentos podem ser piores do que aqueles do "eu poderia". Ah eu poderia... e poderia tanta coisa. E aí que entram os "se", as lamúrias, ou todo aquele tipo de vocabulário utilizado para postergar a auto decepção que incomoda...e como.
E então você percebe que foi tão burro que desconfia até do seu alto grau de escolaridade..culpa o destino, duvida de credo, ironiza o acaso, se consola conforme Murphy testemunhara...Você percebe que não foi capaz justamente de... perceber.
E percebe agora, tardiamente, que não dividiu tristezas comuns, ou até aquelas extraordinárias, que as fazem chorar por quase 3 horas seguidas e que seria capaz de alterar a rotação terrestre para arrancar-lhe um sorriso, por menor que seja.
Você percebe que não esteve ali dividindo o milkshake de ovomaltine pelas madrugadas, não emprestou o ouvido para aquelas reclamações tão pueris, não mandou mensagem de bom dia nem abraço de boa noite...
Não se irritou com bobagens, não riu sozinho ao ouvir uma música, não se pegou repetindo trejeitos, involuntariamente.
E toda essa percepção, até então desconhecida, tão alheia a sua consciência, amarga inquieta dentro de você. Os otimistas diriam que sempre há tempo... Os orgulhosos acreditariam na máxima do "se-não-foi-é-porque-não-tinha-que-ser"... Os realistas não enxergam uma batalha perdida...mas também não enxergam flores pelo caminho.
Não que os meus 29 anos tenham me dado qualquer sabedoria digna de repasse...mas existem coisas que se não forem captadas ali, naquele momento, naquele exato e singular momento, podem se perder num emaranhado de outras milhões de coisas típicas do nosso universo, em constante movimento, nada é estático, nada é para sempre, nada. Nem eu, nem o que escrevo, nem você, caro leitor.
Os atrasos da vida podem ser cruéis. E o problema em estar atrasado é que nunca se sabe o quanto se perdeu. E mais do que isso, o quanto terá que recuperar. Se é que se pode recuperar. E concluo, portanto, e sem refutar minha angustiante nostalgia, que pessoas realmente felizes são aquelas que aproveitam oportunidades. Seja na sorte, seja na sabedoria. Se não for uma, certamente será a outra.

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