domingo, 27 de abril de 2008

Que bicho NOS mordeu?

Absolutamente revoltante o descaso das autoridades cariocas. Já não bastasse a violência selvagem, o caos que qualquer chuvinha transforma a cidade, agora vemo-nos completamente indefesos frente a um.....inseto.

Não que eu viva o problema, sendo sincero, não tenho - e graças a deus - sequer um conhecido abatido pelo temido mosquito. Talvez isso se dê pelo fato de fazer parte de uma minoria. Como sempre, as ressalvadas minorias brasileiras. Ê povinho de merda. Tão merda quanto os números, que aliás, não param de crescer. E certamente são ainda mais merda do que aqueles mostrados pela mídia.

Todos os fatos só tornam ainda mais repudiante a cruel realidade à qual grande maioria do nosso povo é submetido - ou se submete?! Talvez se a doença tivesse vitimado o filho do Sr. governador, ele de fato se importasse. Talvez, se tivesse feito com que o personal trainer do Sr. Presidente desmarcasse uma aula, ele de fato se mexesse. Ou ainda, se tivesse impedido o Sr. prefeito de realizar suas caminhadas matinais pela orla...quem sabe assim ele não tomasse alguma providência.

"Ora, que saiam a noite, o maldito só morde de dia!" devem pensar estes senhores. Filhos bastardos da pátria amada? Salve, salve!

Enquanto isso, nós que só podemos evitar água parada e passar repelente, continuamos a orientar o vizinho a encher de areia aquele balde vazio. Continuamos a lamentar as perdas e a ouvir as histórias de quem passa horas e até dias tomando soro na veia. Sentiu cansaço? "ai meu deus, será que é dengue?"

Assistimos a um massacre silencioso como órfãos em um enterro. Um espetáculo comandado por um ser de dimensões desprezíveis e fomentado por mais outros tantos desprezíveis - mas estes de dimensões bem reais.E salários mais reais ainda. Não tão sensacionalista, é verdade, porque crianças mortas pela dengue não vendem mais que a menina do Ed. London. Ou talvez porque no caso da pobre Isabella os culpados sejam quaisquer uns menos nós. Pois quem assiste calado, condiz. E todas essas crianças, tão inocentes quanto a Isabella, que morrem todos os dias são vítimas nossas. Só nossas. Sem choro, perícia ou entrevista pro fantástico.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Thiago, o impiedoso*

Contos Reais

Dedicado a todos que conseguem ler nas entrelinhas.


Rapaz de poucos amores, o mais novo dos herdeiros daquele Condado, servia de exemplo ao povo. Era o caçula, o orgulho do poderoso monarca, disputado por cada bela donzela nobre da região. Corajoso e aventureiro, costumava desbravar cada canto daquele mágico lugar, percorrendo além dos limites do castelo. Diz a lenda que certa vez , em uma dessas expedições, Thiago foi enfeitiçado.

Acometido por irremediável enfermidade, passou a viver envolto nos caprichos de sua mazela. Numa espécie de esquizofrenia sentimental, protagonizou contos-de-fadas jamais descobertos, aproveitou cada singularidade da mais avassaladora hipnose emocional que lhe retirara cada partícula de pureza. Provou da beleza de tudo o que é proibido, viciou-se nas deliciosas promiscuidades brancas, tornou-se levianamente escravizado pelo próprio desejo.

Mas ele não admitia estar doente. Brigava consigo mesmo. Ora levantava-se, ora caía. Cortava o próprio rosto sinalizando sua revolta passional. Ele tinha de provar estar bem. Tinha de fazer jus às expectativas paternas, ao amor do povo, que já àquela altura pouco lhe importavam. Planejou então sua guinada triunfal. Maquiavélica. Ele precisava ser rei, tinha de estar livre de quaisquer pressão para, sorrateiramente, dedicar-se ao vício.

E para mostrar-se curado, casou-se com uma jovem por ele muito apaixonada. Mas não compartilhavam do mesmo sentimento. Apesar de gloriosamente bem sucedido, era um péssimo marido. Havia se transformado na própria doença que diziam ter envenenado sua alma. A pobre rainha fazia de tudo, mas ele tinha os sentidos danificados. Sem remorsos assistia calado o sofrimento daquela mulher, sorrindo-lhe toda manhã com a frieza de quem nega o amor alheio. Ela, infeliz, morria um pouco a cada dia, enquanto caía na boca do povo a luxuriosa enfermidade daquele Monarca. Que aliás não tinha a menor piedade.

*Nomes aqui utilizados são meramente ilustrativos.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Psicografando

Eu sou a sra. cama e sorrisos, muito prazer
disfarço, atuo, improviso, o que você quer ver?

Tenho meus rótulos, sou a sra. estilo de vida
vivo numa realidade muito desconhecida

Eu sou a sra. nora perfeita, pra você e pros seus amigos
"meu filho, ela é tão meiga", case comigo

Eu sou a sra. muito triste, muito feliz
nem sempre me reconheço naquilo que fiz

Eu sou a sra. viva na teoria, amo com euforia
todos esses idiotas alimentam minha alegria

Eu sou a sra. de prazeres imediatos
meus desejos prevalecem sobre os fatos

eu sou a sra. "meu deus, veja a sem noção"
o que quer que eu faça, quanta condenação

Eu sou a sra. gostosa, esperta, sortuda
você provavelmente queria que eu fosse sua

Eu sou a sra. você-quer-me-levar-pra-cama
"vc gosta assim?vamos, diz que me ama"

Eu sou a sra. música, endorfina e gargalhada
rindo coleciono ligações fragilizadas

Talvez me canse de ser a sra. quando-você-vai-amadurecer
mas aproveite, essa noite seremos só eu e você.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

o sentimento não pode parar

E eu não paro, não paro não
A Cruz de Malta, meu coração
Vasco da Gama, minha paixão
Vasco da Gama, religião
De todos os amores que eu tive és o mais antigo
Vasco, minha vida, minha história, meu primeiro amigo
Quem não me conhece, me pergunta por que te segui
Eu levo a Cruz de Malta no meu peito desde que eu nasci.
.

Sinais

Acordo apalpando meu lado direito da cama
Inutilmente procuro vestigios da sua presença
Semi atordoado ainda penso que você me chama
Eu não vejo ou eu não quero perceber seus sinais?

Arrumo sozinho a cama na qual dormimos
Desfaço seus passos, recolho os restos de desejo
Remonto cenários, imagino desfechos semi perfeitos
Eu não vejo ou eu não quero entender seus sinais?

Na mesa e no meu café bebo suas desculpas infundadas
acredito querendo aceitar todas suas derraparadas
repenso seus contornos e devolvo um sorriso ironico, só pro espelho
Será que eu não vejo ou não quero ver seus sinais?

De tarde aparecem escondidas as escorregadas da sua rotina
Eu disfarço, mas vejo certo incomodo no rosto das suas meninas
Imagino certa pena quando no seu quarto veem fotos minhas
Será que elas veem e percebem os seus sinais?

Daí vem seu carinha-secreto, aquele que você finge que adora
Ele deve ser como qualquer outro, você também não se importa
Pelo menos não até que a culpa não escorra enquanto você corre
Será que ele não vê ou não quer encarar os seus sinais?

Já quase a noite, reprovo, decoro palavras, ensaio atitudes
Encho o peito com a coragem que antes esvaziava minhas virtudes
Até que sua covarde anatomia derrota meu revanchismo teatral
E de novo não vejo, não percebo, não quero saber desses seus sinais.

domingo, 6 de abril de 2008

Essa noite

Sou mais ou menos como você. Não preciso de tempo. Sou abstrato.
Você é tal como propôs, ilude o tempo, inconsequentemente inexata, atemporal.
Eu sou mais forte, já não me perco tão fácil, sorrisos não enebriam meus olhos como ontem.
Tampouco vislumbro dentro de todo esse sincronismo físico um futuro cronologicamente viável.
Mas hoje, observo teu sono.
Agora, tento adivinhar teus sonhos.
Essa noite, conheço de novo cada canto do teu corpo, cada traço do teu rosto.
Hoje, agora, essa noite.

sábado, 5 de abril de 2008

Cena 34

Estacionaram o carro. Cheios de sorrisos, mãos que ainda se tocavam de forma tímida e toda aquela quase infantil beleza de todo início. Ele abriu a porta do carro pra ela. A maresia fria fez com que ficassem ainda mais próximos - o que já era pretendido de qualquer forma.

"Vamos, eles estão ali"disse o rapaz puxando-na pelas mãos.

Aproximaram-se do grupo que animadamente dividia atenção entre violões, vozes e cervejas.

Leo chamou a atenção dos amigos que notaram que o rapaz tinha algo - e importante - a dizer:

"Pessoal, essa é a Lu"

A menina que parecia tímida sorriu de forma contida a cada um dos corpos que habitavam aquele circulo na areia. Eles podiam sentir a alegria do amigo. Era quase contagiante. Quase, porque a bebida já afundava qualquer resquicio de noção.

Juntaram-se ao grupo. Uniram suas vozes que embalavam rockzinhos melódicos, qualquer Bon Jovi ali seria pouca coisa.

Eis que do calçadao já avistavam o que faltava. Eduardo sempre atrasado, sempre confuso, tropego entre cigarros e seus humores conflitantes. Ja cansado, metade animado, metade dramatizando uma possivel dificuldade cotidiana.

"na boa, alguém tem um isqueiro ai?essa merda de maresia ta sinistra hoje"

Luiza observava o rapaz que até aquele momento ainda nao havia posto os olhos nela. Algo nele parecia diferente, incomodava.

"vc nao vai parar mais de fumar nao seu mane?"exclamava Leo levantando-se para abraçar o amigo.
"bom, eu estou vivo, nao to?"ironizava Eduardo
"quero te apresentar a lu" disse, enquanto trazia a menina para seu peito num abraçao acolhedor, e prosseguiu: "lu, esse é o duda, O cara, vc nem deve aguentar mais falar dele, mas agora vc ja sabe quem é!"
Eduardo parou. Pensamentos não se encaixavam ali. Os dois se entreolharam de forma a completar, como se suas retinas se mutuo hipnotizassem.
Meio gago ele ensaiou : "o...oi.- silencio - então, eu sou isso aí, sou o duda"disse ele como naqueles momentos em que não sabemos o que dizer e acabamos sendo obvios demais.
Ela retribuiu com sorrisos e dois beijinhos, achou melhor não prolongar aquele desconforto causado.

Eduardo ligou-se automaticamente na mais alta potencia. sentiu-se mal consigo mesmo e resolveu sair dali, inventou qualquer absurdo para correr dali.

"cara....que merda foi essa?"
Discutir com a propria consciencia já era um hábito. Mas ele sabia que ali pairava algo diferente, algo que em pouco mais de 10 segundo o completara como nunca em anos. E que havia mexido com ele de forma definitiva. Ele só não sabia, naquele momento, o quão definitivo seria.